Megafone: o debate sobre gênero na ordem do dia.

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O debate sobre gênero na ordem do dia

por Luis Emmanuel Cunha

E a violência vem à baila novamente, não pelo debate, mas pela triste confirmação da realização de mais ato hediondo: o estupro coletivo contra uma adolescente no Rio de Janeiro no último dia 21 de maio.

A violência contra a Mulher foi objeto de um Megafone no dia 15 de dezembro do ano passado e é uma preocupação permanente em vista da situação de desamparo da mulher na sociedade brasileira. E esse caso não tem sido diferente. Desde o lançamento do vídeo com imagens dos atos de constrangimento sexual contra a adolescente, passando pelos comentários pessoais feitos a ela nas redes sociais e nos espaços de vivência dela, a abordagem policial, o laudo pericial realizado em excesso de prazo e, principalmente, pela reação social ao caso, pode-se perceber claramente a situação da hipossuficiência social e jurídica da Mulher causada pelo fenômeno da cultura do estupro, e nisso, a culpabilização da vítima e a expectativa de comportamento do macho alfa.

Esse episódio, plenamente repudiável, chama novamente ao debate a má formação policial no Brasil, a necessidade do trato diferenciado às vítimas vulnerabilizadas socialmente, a falta de protocolos de atendimento mais humanizados em relação aos crimes sexuais, a exposição midiática excessiva dos policiais, que tratam os detalhes investigativos abertamente, gerando mais especulação do que contribuição à verdade dos fatos. A atuação policial em áreas socialmente esquecidas pelo Estado, a tolerância estatal com o tráfico e com as milícias, aparentemente, combatidos por programas e ações policiais totalmente teatralizados e ineficazes. Nesse caso, há ainda uma circunstância que se sobressai: a necessidade do debate sobre gênero. Qual é o papel social do homem e da mulher? E a liberdade da mulher em escolher seus parceiros?

A masculinidade não se prova com o constrangimento sexual. Essa lição, ou melhor, essa declaração política e social deve ser legalmente constrangida aos mais de 2731 estupradores em Pernambuco em 2015, considerando os casos que ainda passam à margem do sistema devido à vergonha de muitas mulheres em denunciar seus algozes. O debate sobre gênero e o papel social dos atores deve entrar nas escolas, nas rodas de diálogo, na mídia e deve ser superior ao radicalismo religioso que procura confundir gênero com sexualidade.

De fato, conseguimos tornar o caso carioca do estupro coletivo pior ainda do ele é em si mesmo. Essa realidade precisa e deve mudar já.

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